ATA DA SEGUNDA SESSÃO
ESPECIAL DA SEGUNDA SESSÃO LEGISLATIVA ORDINÁRIA DA DÉCIMA SEGUNDA LEGISLATURA,
EM 14.05.1998.
Aos quatorze dias do mês de
maio do ano de mil novecentos e noventa e oito reuniu-se, no Plenário Otávio
Rocha do Palácio Aloísio Filho, a Câmara Municipal de Porto Alegre. Às quatorze
horas e quarenta e nove minutos, constatada a existência de “quorum”, o Senhor
Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão Especial, destinada
a discutir a situação do ensino superior, em especial da Universidade Federal
do Rio Grande do Sul, nos termos do Requerimento nº 116/98 (Processo nº
1334/98), de autoria do Vereador Henrique Fontana. Compuseram a Mesa: o
Vereador Clovis Ilgenfritz, 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto
Alegre, presidindo os trabalhos; a Senhora Wrana Maria Panizzi, Reitora da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS; o Senhor Nilton Rodrigues
Paim, Vice-Reitor da UFRGS; o Senhor Renato de Oliveira, Presidente da Associação dos Docentes da UFRGS - ADURGS; a
Senhora Maria Assunta Campilongo, representante do Comando de Greve dos
Professores da UFRGS; o Senhor José Luiz Machado, representante da Associação
dos Servidores da UFRGS - ASSURGS; o Senhor David Landau, representante do Comando
de Greve dos Estudantes da UFRGS; os Vereadores Henrique Fontana e Lauro
Hagemann, Secretários “ad hoc”. A seguir, o Senhor Presidente registrou a presença do
Senhor Paulo Egon Withker, do Senhor Rafael Claros, estudante de
Ciências Sociais da UFRGS, da Senhora Rose Colombo, representante do Comando de
Greve dos Técnicos Administrativos da UFRGS, da Senhora Márcia Losada,
estudante de Pedagogia da UFRGS, do Senhor Evandro Cardoso, estudante de
Ciências Sociais da UFRGS, da Senhora Daniela Rosa, estudante da
Faculdade de Educação da UFRGS, do Senhor Gustavo Oliveira, e de professores e
alunos da Escola São Francisco. Ainda, o Senhor Presidente registrou, como
extensão da Mesa, as seguintes presenças: do Senhor Luiz Fernando Coelho de
Souza, Pró-Reitor de Extensão da UFRGS; do Senhor Antônio Carlos Stringhini
Guimarães, Diretor da Escola Superior de Educação Física da UFRGS; do Senhor
Araí Feldens, Vice-Diretor da Faculdade de Economia da UFRGS. Em continuidade,
o Senhor Presidente concedeu a palavra, pelo período de dez minutos, ao
Vereador Henrique Fontana, proponente da Sessão. A seguir, concedeu a palavra
os Senhores David Landau, José Luiz Machado, Maria Assunta Campilongo, Renato
de Oliveira, Wrana Maria Panizzi, do
Senhor Paulo Egon Withker, Rafael Claros, Rose Colombo, Márcia Losada, Evandro
Cardoso, Daniela Rosa e Gustavo Oliveira, que apresentaram seus posicionamentos
quanto ao tema em debate, discorrendo sobre a importância da reflexão, por toda
a sociedade, acerca dos rumos a serem seguidos
pelo ensino público de nível
superior no País. Também, procederam a análises do movimento grevista
empreendido pela comunidade docente e discente da UFRGS. Na oportunidade, o
Senhor Presidente registrou o recebimento de documentos, entregues pelo Senhor
José Luiz Machado, contendo a pauta de reivindicações da ASSURGS, bem como
cópia do Ofício nº 20/98, enviado pelo Senhor Paulo Renato de Souza, Ministro
da Educação e Desporto, e exemplares da Revista “Universidade Cidadã para os
Trabalhadores”. Também, o Senhor Presidente prestou informações acerca da
realização das Sessões Plenárias do Estudante, registrou a presença de
professores e alunos da Escola Estadual de 1º Grau General Daltro Filho, e,
após o pronunciamento do Senhor Rafael Claros,
face ao grande número de Oradores inscritos e por solicitação dos
Senhores Vereadores, determinou redução do tempo a ser utilizado durante os
pronunciamentos,. Ainda, registrou ter sido aprovado pela Casa o Requerimento
nº 95/98 (Processo nº 1069/98), de
autoria do Vereador Gerson Almeida, de Moção de Apoio ao movimento da
comunidade universitária por melhores condições de trabalho, e destacou que
será enviado documento a respeito ao Presidente da República e ao Ministério da
Educação. Em prosseguimento, o Senhor Presidente concedeu a palavra, por cinco
minutos, aos Vereadores José Valdir, Clênia Maranhão, Lauro Hagemann, Maria do
Rosário, Gerson Almeida, Guilherme Barbosa, Carlos Garcia e João Motta, que se
pronunciaram acerca do tema em debate, analisando causas e conseqüências dos
problemas apresentados pelo ensino público brasileiro. Após, o Senhor
Presidente concedeu a palavra à Senhora Wrana Maria Panizzi que, em nome da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, agradeceu a este Legislativo por
viabilizar o debate hoje aqui realizado acerca da situação do ensino superior
no País, em especial no referente à UFRGS. A seguir, o Senhor Presidente agradeceu
a presença de todos e, nada mais havendo a tratar, declarou encerrados os
trabalhos às dezessete horas, convocando os Senhores Vereadores para a Sessão
Ordinária de amanhã, à hora regimental. Os trabalhos foram presididos pelos Vereadores
Clovis Ilgenfritz e Henrique Fontana, este nos termos do parágrafo único do
artigo 27 do Regimento, e secretariados pelos Vereadores Henrique Fontana e Lauro
Hagemann, Secretários “ad hoc”. Do que eu, Henrique Fontana, Secretário “ad
hoc”, determinei fosse lavrada a presente Ata que, após distribuída em avulsos
e aprovada, será assinada pelos
Senhores 1º Secretário e Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Boa tarde, Srs. Vereadores, Estudantes,
Professores, Reitores e membros do Quadro Funcional aqui presentes. Esta é a 2ª
Sessão Especial da 2ª Sessão Legislativa Ordinária da XII Legislatura. Este
espaço de hoje é destinado à discussão da situação do ensino superior, em
especial da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, conforme Requerimento nº
116/98, de autoria do Ver. Henrique Fontana - Proc. nº 1334/98.
Nós,
desde já, agradecemos a presença de todos. Vamos formar a Mesa convidando a Reitora
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Dra. Wrana Maria Panizzi; o
Vice-Reitor daquela Universidade, Professor Nilton Rodrigues Paim; o Presidente
da ADURGS - Associação dos Docentes da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul -, Professor Renato de Oliveira; a representante do Comando de Greve dos
Professores da UFRGS, Professora Maria Assunta Campilongo; o representante da
ASSURGS - Associação dos Servidores da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul, José Luiz Machado; também
convidamos o Representante do Comando de Greve dos Estudantes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, o estudante Davi Landau.
Conforme
o Requerimento do Ver. Henrique Fontana, aprovado por esta Câmara por
unanimidade, esta Sessão tem uma característica especial, para discutir a
situação do ensino superior, em
especial da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Anunciamos
as presenças da Vera. Clênia Maranhão; do Ver. João Dib; Vera. Maria do
Rosário; Ver. Gerson Almeida; Ver. Guilherme Barbosa; Ver. Renato Guimarães;
Ver. Henrique Fontana; Ver. José Valdir, que
prestigiam esta Sessão. Aproveitamos para cumprimentar o sempre dirigente Sindical Paulo Egon
Withker.
A
Mesa, logo a seguir, vai abrir as inscrições para os Srs. Vereadores.
O
Ver. Henrique Fontana, proponente desta Sessão Especial, está com a palavra.
O SR. HENRIQUE FONTANA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa.) Tenho a honra de introduzir a nossa
Sessão Especial de hoje a tarde, dizendo a toda sociedade de Porto Alegre, aos
estudantes e professores da UFRGS, às Senhoras e Senhores Vereadores que aqui
estão, aos funcionários da UFRGS que acompanham esta Sessão, o porquê - como me
perguntava, há pouco, uma Jornalista da Rádio Bandeirantes - de a Câmara
convocar uma Sessão Especial para discutir a situação da UFRGS. É porque
entendemos que o futuro da UFRGS está intimamente ligado ao futuro que queremos
para a Cidade de Porto Alegre e para o Estado do Rio Grande do Sul. Se esta Casa Legislativa discute e debate
cotidianamente alternativas para que consigamos viver numa cidade mais digna,
mais justa e que tenha um projeto de futuro para os seus filhos, é preciso que
esta Câmara Municipal de Porto Alegre discuta o futuro da universidade pública
que está localizada nesta Cidade. Eu gostaria de colocar este debate em torno
da universidade pública, no Brasil, e da nossa UFRGS no Rio Grande do Sul,
dentro de um cenário político que é, talvez, a obrigação maior que eu tenho a
contribuir nesta tarde de debates e encaminhamentos.
Nós
ouvimos, ao longo dos últimos anos,
diversas construções políticas e sociais que tratavam de temas que
falavam - e falam ainda hoje - de um
projeto de alteração da estrutura do Estado Brasileiro. E, dentro desse
projeto, um dos discursos fundamentais abordava o tema de que era preciso
privatizar áreas ditas não essenciais por aqueles que defendem esse
modelo, para que esses recursos
aportassem nas áreas ditas essenciais:
saúde, educação e outras.
Nós
assistimos a um processo acelerado de privatizações nos últimos anos, e
assistimos, junto com esse processo, a uma diminuição do orçamento público da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Então,
é preciso que, nesta tarde, se faça uma reflexão de que esse movimento,
carregado com muita dignidade por alunos, professores, servidores da UFRGS e
pela sociedade em geral, discuta e entre dentro de um cenário para debater não
só o salário dos professores e a universidade pública, mas para debater o
modelo de sociedade que nós queremos.
Dentro
desse cenário, se diz, com freqüência , que é preciso equilibrar as contas
públicas. E esta, também, é uma palavra mágica que está esparramada pela mídia
do nosso País. Mas, quando se fala no equilíbrio das contas públicas, a via
para esse equilíbrio sempre é de uma mão só, e essa via se chama diminuição dos
gastos públicos. E se falseia o debate, porque não se analisa se esses gastos
públicos são maus ou bons gastos. Porque toda a sociedade brasileira tem um
acordo de que é preciso diminuir os maus gastos públicos, ou seja, o dinheiro
que sai pelo ralo da corrupção, o dinheiro que é desviado em projetos
faraônicos sem necessidade para a sociedade. Mas existem bons e maus gastos
públicos, e a universidade pública é um excelente gasto público. E, portanto,
não podemos aceitar que, sob o manto do
discurso do chamado equilíbrio das contas públicas, se trabalhe sempre na mesma
tecla, que é o corte dos investimentos em áreas fundamentais para construir um
País digno, para um projeto de nação como nós queremos.
Quando
se fala do equilíbrio dos gastos públicos, não se fala, por exemplo, que, para
equilibrá-los, é possível também aumentar a arrecadação pública, não cobrando
impostos escorchantes e inadequados da população, mas cobrando, por exemplo, um
imposto socialmente justo, como é o imposto sobre as grandes fortunas. Não se
fala que, para garantir o equilíbrio das contas públicas, é preciso enfrentar
uma questão fundamental que constitui a espinha dorsal das opções políticas que
estão sendo feitas no nosso País: qual a política de estabilidade econômica e
social que queremos? Nós queremos uma
política de estabilidade econômica e social baseada em uma política que coloca
o Brasil como campeão mundial de juros, para remunerar o capital especulativo
que vem de todos os cantos do planeta para cá e que gerou - Senhoras e Senhores
que acompanham o nosso debate - um aumento dos gastos públicos, do ano passado
para este ano, de 20 bilhões de reais, para uma estimativa, neste ano, de 45
bilhões de reais? Ou seja, aqui sim, está o rombo fundamental das contas
públicas, porque foram 25 bilhões de reais de um ano para outro.
Não
podemos continuar aceitando aquilo que se tenta vender ideologicamente, que se
tenta disseminar nos meios de comunicação, de que o causador do déficit público
brasileiro é o funcionário público deste País, que é, invariavelmente, colocado
como o “bode expiatório” da crise que vivemos, do ponto de vista do equilíbrio
orçamentário que todos nós queremos. É evidente que a sociedade quer que haja o
equilíbrio no orçamento público, mas a sociedade quer, deve e precisa - e este
movimento tem este mérito - discutir as opções políticas que serão tomadas para
garantir esse equilíbrio fiscal, esse equilíbrio orçamentário.
Quando
se diz da importância da Universidade Federal do Rio Grande do Sul para a
sociedade, é preciso que olhemos para
cada um de nós, que olhemos para tudo o que nos cerca e que pensemos em quantas
das coisas que acontecem no cotidiano social, que foram gestadas, instruídas e
debatidas a partir daquilo que se produz na universidade pública.
Eu,
por exemplo, participo da luta política
para construir uma alternativa de país e tive a minha formação dentro da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A
Prefeitura de Porto Alegre, que nós, como representantes legislativos, fazemos
parte, na gestão desta Cidade, tem inúmeros convênios com a Universidade
Federal do Rio Grande do Sul que alteram, na prática, o cotidiano da vida das
pessoas nesta Capital.
Então, quando alguns
tentam, também, de maneira absolutamente inadequada, muitas vezes até
mal-intencionada, dizer que a Universidade seria um recanto para devaneios
filosóficos ou para privilegiamento de pessoas com alto poder aquisitivo, é
preciso que digamos que a Universidade pública interessa, trabalha e constrói
as opções sociais de toda a sociedade.
E
o mais fundamental, Sr. Presidente, é que este movimento que começou, porque
havia falta de espaço para negociar com este Governo, a despeito do que o
Ministro diz, que só aceita negociar se o movimento terminar. É preciso que nós
sempre voltemos atrás, às causas, e entendamos que o movimento só surgiu e se
fez necessário, nesse ato extremo, porque não havia espaço para a negociação e
espaço político para buscar alternativas para salvar e recuperar a nossa Universidade.
Então,
não vale iniciar a discussão a partir do dia em que foi deflagrada a greve que,
aliás, tem um apoio social imenso e histórico, e por quê? Porque as pessoas
entendem que ela tem uma relação direta com o futuro que nós queremos construir
para os nossos filhos e para a nossa Nação.
Por
isso nós, como Vereadores, lutaremos com todas as forças para que, em todos os
espaços políticos que ocupemos, para que, em todos os espaços desta sociedade,
se faça uma ampla discussão sobre a necessidade e o papel fundamental da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul para o desenvolvimento desta Cidade e
deste Estado. E seremos solidários com esse movimento corajoso que está
conseguindo colocar na mente e na casa de cada gaúcho e de cada brasileiro uma
discussão fundamental sobre o nosso futuro.
O
Brasil não pode ser uma nação dependente, tem que ser uma nação com projeto,
que enxergue o que nós queremos produzir como alternativa de desenvolvimento
para toda a sociedade. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Além desse público representativo da
Universidade, nós contamos com a presença dos alunos da Escola São Francisco,
uma escola particular, com a turma 415, da 4ª Série, acompanhados da professora
Adriana. Sejam muito bem-vindos. Essa luta da Universidade é de vocês também.
Queremos
citar, como extensão da Mesa, a presença do Pró-Reitor de Extensão professor
Luiz Fernando Coelho de Souza, do Diretor da Escola Superior de Educação
Física, Professor Guimarães e do Vice-Diretor da Faculdade de Economia,
Professor Araí Feldens. Convidamos a ocuparem a tribuna.
O
representante de Comando de Greve dos estudantes da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul Davi Landaun está com a palavra.
O SR. DAVI LANDAU: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Quero começar dando um pequeno
relato de como está o nosso movimento, porque ouvimos, muitas vezes, a imprensa
dizendo que estamos em apoio à luta dos professores. Obviamente que estamos,
porque a luta é nossa, mas também porque a manutenção da Universidade pública
gratuita a serviço dos interesses da maioria da população brasileira é uma
responsabilidade de todos nós.
Por
isso, na última terça-feira, em assembléia-geral, nos reunimos no Araújo Viana,
a partir das 6 horas, conseguimos juntar praticamente dois mil estudantes e
decretamos a greve dos estudantes, ou seja, agora, a comunidade universitária é
uma só, todos os setores estão na luta para manter a nossa Universidade. A
nossa luta não começou com a decretação da nossa greve, a nossa luta vem desde
o início de abril, com várias passeatas, depois, tivemos várias iniciativas,
como atividades no Brique, painel de vários cursos, mostrando o que
acontece na Universidade. É importante
que a sociedade saiba o que se produz na Universidade, a importância social da
Universidade, cada curso tinha uma iniciativa voltada para a sua área. Estamos
com um acampamento no campo central da UFRGS, estamos com uma passeata por
semana, em média, às vezes, até mais. Tivemos a iniciativa de procurar os
cursinhos, elaborar um panfleto para os colegas dos cursinhos, porque é
importante que eles saibam a realidade com a qual eles vão se deparar. Houve
alguns colegas dos cursinhos que foram na Universidade ver o nosso movimento,
se interessaram, e o apoio está sendo dado. Nossa greve está cada vez mais
forte em nível nacional, os professores estão em greve em 51 das 52
Universidades, os funcionários estão em greve em 38 Universidades, e os
estudantes, com a nossa entrada na greve, já são 20 Universidades em que os
estudantes estão em greve. Esses números vão aumentando dia-a-dia. Estamos bem
organizados em nível nacional, uma caravana está sendo organizada para ir a
Brasília para fazer uma manifestação em frente ao Palácio do Planalto.
Segunda-feira, teremos uma reunião do Comando Nacional dos Estudantes; na
quarta-feira haverá atos nacionais em todo o Brasil, aqui também haverá um ato.
Estamos planejando a nossa próxima assembléia para terça-feira, da outra
semana, dia 26. A destruição da Universidade Pública Federal está relacionada
com um projeto neoliberal de destruição de tudo que é público e de
fortalecimento dos grandes oligopólios mundiais. No momento em que o Governo
coloca um Projeto de Emenda Constitucional que quer desincumbir o Estado da sua
responsabilidade de sustentar a universidade, ele coloca duas saídas para a
universidade; uma, é que a universidade sirva como uma loja para vender
serviços para as grandes empresas, perdendo a sua autonomia, o espaço crítico que,
como o Ver. Henrique Fontana disse, foi sempre uma característica da
universidade, ficando o ensino em função dos interesses dos grandes capitais.
Por outro lado, a PEC-370 acaba com a gratuidade constitucional do ensino
superior, elitizando e impedindo que muitos dos que hoje estão nessa
Universidade continuem estudando nela. É importante colocar essas questões para
a sociedade, mas também para os
Vereadores, porque é importante
que a Câmara Municipal se posicione para defender essa Universidade que tem de
servir para os interesses sociais e tem de ser aberta para toda a comunidade.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Há, neste momento, nove Vereadores
presentes.
O
Sr. José Luiz Machado, representante da ASSURGS, está com a palavra.
O SR. JOSÉ LUIZ MACHADO: Srs. parlamentares, Srs. servidores
técnico-administrativos, docentes e alunos, em primeiro lugar, quero
parabenizar a Câmara por esta Sessão. É uma honra para nós da Universidade
recebermos este espaço onde podemos debater
essa crise gerada pelo Governo, pela sua política, afetando, profundamente, o
ensino superior deste País. Este evento mostra a importância que a
universidade, em especial a Universidade Federal do Rio Grande do Sul, tem para
a sociedade porto-alegrense. Há 100 anos que essa Universidade caminha junto
com a Cidade de Porto Alegre contribuindo, produzindo pesquisa, projetos,
quadros que hoje atuam em diferentes áreas da Cidade, inclusive aqui neste parlamento.
Senhores
Parlamentares, esse patrimônio público está sendo sucatado, está sendo
privatizado por uma política extremamente perversa deste Governo que retira
recursos para o sistema financeiro, para passar à reforma da Previdência,
certamente, para acabar com todos esse “vagabundos” que encontramos hoje, e,
quando é para sustentar a Universidade, que é o seu dever constitucional, corta
orçamentos, corta bolsas de pesquisa, reduz verbas extremamente importantes
para a Universidade continuar construindo e produzindo. Além do problema na
manutenção do seu patrimônio físico, vemos hoje problemas seríssimos no nosso
quadro de pessoal. Hoje os servidores públicos federais se encontram há três
anos e meio sem reajuste salarial. Somado a isso, vemos diversas reformas,
medidas provisórias, vemos cortados os nossos direitos, vemos cortado tudo
aquilo que conseguimos construir e conquistar. Para dar um exemplo de como essa
política perversa vem afetando a Universidade, em 1994 éramos três mil e
seiscentos servidores técnico-administrativos; hoje somos pouco mais de três
mil, ou seja, além de um corte substancial no nosso salário, representado por
esse achatamento salarial, nos vemos hoje na obrigação de atender essa
Universidade e de continuar fazendo a mesma produzir com menos pessoas.
Senhores
Parlamentares, a Universidade saiu às ruas, buscando o apoio da sociedade para
que possamos dar um basta nessa situação. Hoje, nós, em nível nacional,
construímos um movimento extremamente forte, que teve como mérito colocar o
Ministro contra a parede, onde ele pudesse ceder. Hoje já temos as primeiras
negociações com esse Ministro, mas, mesmo assim, esse Ministro ainda continua
com a sua forma autoritária, aliás, como tem sido todo o Governo, tentando
minar este movimento com ameaças de corte de salários, com ameaças de corte de
benefícios. É nesse sentido, Senhores, que estamos aqui, pedindo o apoio,
pedindo o comprometimento destes Parlamentares para que possam pressionar os
seus colegas federais, os seus colegas estaduais, na defesa desta Universidade,
que se comprometam nesta nossa luta, que não é só nossa, servidores
técnico-administrativos, docentes e alunos, mas de toda a sociedade. Muito
obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Nós combinamos com a nossa Assessora de
Relações Públicas, a Sra. Luiza, para ela receber, desde já, as inscrições das
8 pessoas que quiserem usar o tempo, conforme foi previsto. Já está inscrito o
Paulo Egon.
Está
com a palavra a Professora Maria Assunta Campilongo, Representante do Comando
de Greve dos Professores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
A SRA. MARIA ASSUNTA CAMPILONGO: Exmo. 1º Vice-Presidente da Câmara Municipal de Porto Alegre, Ver.
Clovis Ilgenfritz, Srs. Vereadores, Sras. Vereadoras. (Saúda os Componentes da
Mesa.) Professores e técnicos-administrativos das 52 Universidades Federais
estão em greve, porque não recebem reajustes salariais há três anos e cinco
meses. A greve nas Universidades Federais é muito mais que uma reivindicação
salarial: é um profundo movimento de reação ao projeto do Governo Federal de
desmonte do ensino público. É um movimento de defesa de uma universidade
pública, gratuita e de qualidade, antes de tudo, patrimônio do povo brasileiro.
É grande a importância da Universidade no desenvolvimento sócio-econômico e
cultural, na formação de inúmeras gerações de profissionais e da elite
dirigente e intelectual do Estado com projeção nacional e internacional. É
grave o processo de desmonte e sucatamento que a afeta a universidade, porque
isso gera perdas que são inestimáveis em termos patrimoniais e humanos. O
sucatamento das instituições federais de ensino superior repousa, hoje, sobre
dois pontos que afetam a Universidade. O primeiro ponto é quanto ao seu
financiamento. Para citar alguns exemplos, o Governo Federal destina hoje mais
verbas para o ensino privado do que para o ensino público. A UFRGS dispõe, em
1998, de apenas 52 mil reais quando precisaria de 150 milhões para fechar as
suas contas. O corte de bolsas de iniciação científica, de pós-graduação e de
pesquisa prejudica a continuidade de projetos de pesquisa em andamento e
inviabiliza novos. Quanto aos salários, o achatamento e o aviltamento dos
salários nas universidades coloca, de forma dramática, em risco a alta
qualidade que sempre a diferenciou. Existe, hoje, um total abandono deste
Governo na manutenção do sistema federal de ensino superior demonstrado pela
atuação irresponsável e intransigente do Ministro da Educação, Sr. Paulo Renato
de Souza para com o movimento das universidades. Esses comportamentos
demonstram que o desleixo e o abandono são propositais em um governo que
dilapida a coisa pública e promove o desmonte do estado, em última instância,
de seus recursos humanos. A PEC 370/96 que constitucionaliza a nossa autonomia
auto-aplicável coloca a Universidade à mercê de uma autonomia concedida,
controlada e vigiada. Um retrocesso e um atentado às conquistas consagradas
pelo art. 207 da Constituição Federal de 1988. A dilapidação do seu quadro
funcional devido ao grande número de aposentadorias e exonerações sem o conseqüente
preenchimento das vagas existentes e os baixos salários são situações que
mostram com que desprezo este Governo trata, não só a educação, mas todos os
problemas sociais que assolam a nossa sociedade. Estamos nos transformando em
uma sociedade dos “sem”: sem-educação, sem-saúde, sem-casa, sem-emprego,
sem-salário, sem- terra, etc. Portanto, Srs. Vereadores, este movimento das universidades que hoje engloba
a quase totalidade de sua comunidade (docentes, técnicos-administrativos,
estudantes), vem a público, novamente, denunciar essas investidas, ao mesmo
tempo em que necessita do apoio firme e inconteste de todos os parlamentares
desta Casa, que, imbuídos de espírito público nos ajudem na luta em defesa da
Universidade Pública em nosso País.
A
existência de uma universidade autônoma, democrática, pública, gratuita e de
qualidade é, sem dúvida, o substrato da construção de nossa soberania nacional,
autonomia e cidadania
Reafirmamos
nossa luta por mais vagas e mais verbas para as Universidades Públicas,
salários dignos, uma política de ciência e tecnologia que garanta a
continuidade da pesquisa, abalada com os recentes cortes de bolsas e
financiamento.
Uma
universidade pública, gratuita e de qualidade que é dever do Estado e direito
de todos. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O Presidente da ADURGS, Prof. Renato de
Oliveira está com a palavra. Eu gostaria de dizer que me sinto muito bem
representado pelo professor, porque fui um dos que ajudou a fundar a ADURGS.
O SR. RENATO DE OLIVEIRA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda os componentes da Mesa e
demais presentes.) Isso aumenta a nossa
responsabilidade. Nós costumamos dizer que essa greve que enfrentamos
nas Universidades Federais tem características específicas e únicas dentre as
tantas greves pelas quais a Universidade Pública Brasileira já passou nos
últimos quinze ou vinte anos.
Para
que nós possamos entender o por quê dessas características únicas devemos ter
presente um fato que é elementar, mas que foge da nossa consciência quotidiana:
as universidades federais brasileiras constituem um dos únicos sistemas
universitários que foram capazes de colocar um País de Terceiro Mundo na
vanguarda da produção cientifica e
tecnológica em termos mundiais. O Brasil, pelo que se faz nas suas
universidades, é capaz de competir e de alcançar os padrões mais avançados de
produção científica em qualquer domínio do conhecimento humano em escala
planetária. Se isso, por si só, não tem
sido capaz de tirar o País do subdesenvolvimento em vários dos setores da sua
sociedade, da sua economia, a culpa não é da universidade. Isso é
responsabilidade da ausência de uma política industrial, da ausência de uma
política econômica que transforme a ciência produzida na universidade em
produto disponível para toda a
sociedade. A universidade está aí e está cumprindo o papel que lhe cabe, com
uma competência como poucas universidades fora do mundo dito desenvolvido. Mas, ao invés de desenvolver
uma política industrial, de planejar uma política econômica que coloque a
universidade pública brasileira a serviço da sociedade naquilo que ela tem de
melhor, o que faz o Governo Federal?
A
partir do segundo semestre do ano passado, o Governo Federal cortou para menos
da metade o volume de bolsas para estudantes de pós-graduação, cortando para
menos da metade os níveis de formação de novos pesquisadores, de novos
doutores, de novos mestres. Cortou-se para quase a metade o financiamento de
novos programas de pesquisa, praticamente zerou os programas de iniciação
científica que fazem com que se forme hoje, entre o aluno de graduação das universidades federais, uma mentalidade
voltada para a pesquisa, uma mentalidade voltada para a investigação, portanto
uma mentalidade verdadeiramente universitária. Isso foi feito ao final do ano
passado. No início deste ano, o Governo Federal junta recursos obtidos através
desses cortes, de cortes que sacrificaram e comprometeram a capacidade de
produção científica e tecnológica de uma das únicas redes universitárias do mundo capaz de competir com o Primeiro
Mundo nesses setores. Juntou esses recursos para criar um programa de bolsas
dirigido a professores que se dedicassem integralmente ao ensino de graduação e
que abandonassem, portanto, as atividades de pesquisa, as atividades de
produção de conhecimento. Foi este programa de bolsas que desencadeou o atual
movimento grevista porque, instantaneamente, alunos, professores e funcionários
entenderam o que estava em questão. Estava em questão a sobrevivência desta rede de ensino superior pela qual nós
somos responsáveis e foi isso que fez com que os mais diversos setores da
opinião pública entendessem precisamente o que estava em questão e não
hesitassem em nenhum momento em se mobilizar em favor da nossa Universidade,
porque entenderam que o que está em questão são os interesses que tocam o fundo
da nacionalidade, o fundo da possibilidade de nós construirmos um Projeto
Nacional com o mínimo de autonomia, com o mínimo de soberania.
É
por isso, Ver. Henrique Fontana, que a sua iniciativa de trazer o debate para
esta Casa está absolutamente de acordo com esta sensibilidade produzida em
nível Nacional pelo nosso Movimento, pelas Universidades Federais Brasileiras,
porque cabe ao Poder Legislativo, enquanto uma instância delegada da soberania
popular, ocupar-se daquilo que diz respeito ao interesse público. Aliás, foi
graças à intervenção do Poder Legislativo, na Câmara Federal, através da
formação de uma Frente Parlamentar de Defesa do Sistema Federal de Ensino Superior
que nós conseguimos abrir uma perspectiva de negociação com o Ministério de
Educação que já admite a possibilidade de negociar. Ainda fala em
pré-condições, mas, essas pré-condições são absolutamente inviáveis e a
negociação virá porque faz parte da ordem natural das coisas e porque o Poder
Legislativo assim o quer. É por isso que em várias Assembléia Legislativas
estaduais está se discutindo, hoje, a crise nas universidades federais e é por
isso que nós estamos aqui, hoje! Porque o Encontro das universidades federais
com as diversas instâncias do Poder Legislativo é precisamente o encontro do
interesse público com a instância de representação, a instância delegada da
soberania popular. Por isso, para nós não é estranha esta Sessão, nós temos
certeza de que sairemos ganhando, não
apenas no sentido de resolver esta crise no que ela tem de mais imediato, mas
no sentido de saber que encontraremos aqui uma parceria, aliados políticos, uma
aliança política com esta Casa para encaminharmos a verdadeira batalha que
enfrentaremos imediatamente após sairmos vitoriosos desta greve, que é a
batalha da autonomia universitária, quando verdadeiramente um projeto
universitário vai estar em disputa neste País e, conseqüentemente, um projeto
de democracia, um projeto político e um projeto nacional estará em disputa. Nós
viremos muito mais vezes a esta Casa porque esta é a nossa Casa, é a Casa da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Sra. Wrana Panizzi, Magnífica Reitora
da Universidade Federal do Rio Grande do Sul está com a palavra.
A SRA. WRANA PANIZZI: (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Gostaria, também, de fazer uma saudação, embora eles não estejam
mais aqui, a todos os estudantes da
Escola São Francisco e à Profa. Adriana, esses estudantes que serão os futuros
alunos da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade essa
que, acima de tudo, queremos preservar.
Gostaria
de parabenizar a Câmara Municipal de Vereadores que, como a Casa maior de
representação do Município de Porto Alegre, decide trazer, para dentro desse
fórum, a discussão da situação da universidade pública brasileira a partir da
discussão da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Sabemos
que, nos últimos tempos, as nossas universidades e, de modo especial, as
universidades públicas federais têm passado por inúmeras dificuldades. Nós
temos vivido momentos em que o Sistema Federal de Ensino Superior, composto por
cinqüenta e duas instituições, tem passado por algumas restrições, restrições
essas que dizem respeito aos seus recursos financeiros, patrimoniais, humanos.
No que diz respeito aos recursos financeiros é bom saber-se que do ano passado
para cá, naqueles orçamentos destinados a custeio e investimentos, tivemos uma
substancial queda. Tínhamos, no ano passado, um orçamento destinado aos
investimentos - e investimento
significa aquela possibilidade de expansão necessária para corresponder
à expansão das nossas atividades acadêmicas - no valor de 834 mil reais. Este
ano, passamos a contar com 52 mil reais para os investimentos. Vejam que só as
nossas necessidades atuais, para acabar os nossos prédios, para poder construir
novos, ou para recuperar os nossos prédios históricos, são da ordem de 63 milhões
de reais, para recuperar e construir 109 mil e 500 metros quadrados, que
complementarão os mais de 300 mil metros quadrados que compõem este patrimônio
que é do Estado do Rio Grande do Sul, que é da Cidade de Porto Alegre.
Temos
a necessidade de laboratórios, de equipamentos, para os quais temos projetos,
porque tramita no MEC o projeto para reequipamentos da nossa Universidade no
valor de 8 milhões e 900 mil reais, o projeto para a recuperação dos prédios
históricos, para terminar os nossos prédios inacabados, para construir prédios
novos no valor de 63 milhões de reais. Portanto, temos programa, propostas e
prioridades estabelecidas. Mas, mais do que isto, Senhores aqui presentes e, de
modo especial, Senhores Parlamentares, estamos perdendo o nosso patrimônio
maior, que são os nossos recursos humanos, são os professores, são os
técnicos-administrativos, que aos poucos estão sendo obrigados a deixar a
Universidade, e temos dificuldades para repô-los. De 1991 até hoje perdemos
1187 Professores, por processos de aposentadoria, com aposentadorias
proporcionais, mas hoje estamos perdendo por um fenômeno muito mais sério, que
são os pedidos de exoneração. São 100 técnicos-administrativos que pediram
exoneração E quando vamos repor as vagas? Nós não temos a liberdade e não temos
as vagas disponíveis e quando as temos as pessoas ou não vêm para fazer
concurso, ou quando vêm, não assumem os cargos, exatamente porque há uma questão salarial muito forte.
Para
os técnicos das bibliotecas, 43 vagas foram geradas, e nós recebemos
autorização para realizar concurso para 08 vagas; para técnicos de laboratórios
temos 39 vagas, e tivemos autorização para repor somente uma vaga.
Ontem,
Senhores, infelizmente, às 20h30min, quando estava assinando as últimas
portarias, tive, ainda, que assinar mais três portarias de pedidos de
aposentadoria de professores e duas de técnicos-administrativos.
Se
a Universidade perde tudo isto, ela tem, bravamente, resistido e resistido da
forma mais digna, ou seja, daquela forma digna das instituições que têm o
produto mais caro - no sentido de importância, não no sentido do custo - e mais
importante, neste País, que são os recursos humanos e o conhecimento.
Esta
Universidade tem respondido aumentando o número de cursos, isto é, já
aumentamos dois cursos de graduação e sete cursos de pós-graduação, trazendo
uma enorme produtividade na área da pesquisa e do ensino. Só no ano passado,
formaram-se 2.800 novos profissionais disponibilizados. Temos 690 convênios em
pleno desenvolvimento, com as mais diferentes instâncias. Temos um profundo
desenvolvimento científico e tecnológico, que tem contribuído de forma
essencial e de forma definidora para o
desenvolvimento do Estado do Rio Grande do Sul e deste Município.
É
isto, sim, que esta Universidade tem, ao longo dos anos, feito. É ela a
responsável pela formação das grandes lideranças políticas, sociais e
econômicas do mundo do trabalho, que fazem
a história deste Estado, desta Cidade e deste País. É por isso que hoje
nós aqui estamos para dizer que contamos, sim, Srs. Vereadores, com o papel dos
Senhores na defesa desta Universidade, porque, hoje, não estamos só preocupados
com a Universidade de hoje, mas, acima de tudo, estamos preocupados com o
futuro da Universidade e com a Universidade do futuro. Porque sem este tipo de
instituição, especialmente neste final de século, na sociedade do conhecimento
como estamos vivendo, efetivamente, não teremos um desenvolvimento digno da
grandeza, digno da bravura, digno da história do povo gaúcho, do povo porto-alegrense
e do povo brasileiro.
Por
isso, quero repetir aqui: a Universidade Federal do Rio Grande Sul, a sua
administração, entende que o que se discute aqui não são só questões de
reivindicações de caráter salarial; discutem-se questões que dizem respeito à
vida desta instituição, e não só à vida desta Universidade, porque nós a
queremos grande, sim, mas queremos grande e forte todo o Sistema Federal de
Ensino Superior, porque não há universidade forte se não tivermos um forte
sistema de ensino superior; uma universidade de qualidade, sim, cada vez de
maior qualidade, e é para isso que estamos trabalhando; uma universidade
pública, uma universidade sempre pública, porque o País e a sociedade merecem;
uma universidade gratuita, sim, sempre gratuita, porque a sociedade que nos
sustenta é a sociedade brasileira que, mais do que nunca, precisa, porque nós temos que fazer com que o privilégio de poder freqüentar a universidade,
ainda tão restrito em termos percentuais, possa se ampliar a muitos brasileiros
e brasileiras, gaúchos e gaúchas, porto-alegrenses todos que têm o direito de
poder, um dia, freqüentar esta universidade.
Temos
a certeza absoluta de que a sociedade gaúcha, a sociedade porto-alegrense, tem
respondido e é parceira desta luta, desta luta que está acima de qualquer outra
coisa, é uma luta que diz respeito à nossa cidadania, que diz respeito a todos
aqueles que têm compromisso com o presente desta Cidade e deste Estado, mas,
acima de tudo, com o futuro. Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Queríamos dizer que recebemos do
representante da ASSURGS - Associação dos Servidores, Sr. José Luiz Machado,
uma pauta com as reivindicações colocadas com os detalhes que nós precisamos.
Recebemos, ainda, uma cópia do of. nº.20/98, enviada ao Sr. Ministro de
Educação e Desporto, Sr. Paulo Renato de Souza, com a pauta das reivindicações
e uma revista Universidade Cidadã para os Trabalhadores.
Nós
vamos fazer cópias desses documentos para todos os Vereadores e setores que
mais desejarem e vamos pedir ao nosso amigo, Sr. José Luiz, se ele conseguiria
mais algumas revistas para os 33 Vereadores.
O
Sr. Paulo Egon Withker está com a palavra.
O SR. PAULO EGON WITHKER: Sr. Presidente, Srs. Vereadores.
Queremos dizer da nossa satisfação em poder estar aqui trazendo apoio e
representando o Deputado Federal Paulo Paim, e, também, como Ex-Presidente do
CPERS, como bem disse o Ver. Clovis Ilgenfritz. Depois de tantas caminhadas,
lutas e greves, tantos apoios que recebemos, na época, representando a
entidade, e analisando os tempos e as dificuldades por que se passamos nesses
movimentos, quando muitos de nós éramos presos ou desaparecíamos, e analisando
a caminhada hoje, nessa luta, cumprimentamos
os Vereadores, esta Casa e o proponente desta Sessão de apoio em defesa
à universidade pública.
Também neste sentido quero
saudar todos os representantes das
entidades, o Renato, o Luiz, o David, representando todas as entidades que
estão neste movimento, a Reitoria, através da Reitora Wrana, do Vice-Reitor,
Paim e dos demais Pró-Reitores por este
movimento que já se tornou institucional. Creio que todos nós estamos de
parabéns no momento em que estamos participando de um movimento em defesa da
Universidade, que, hoje, tem um papel fundamental na disputa da própria
cidadania, porque a Universidade faz parte da construção do conhecimento.
Quero
cumprimentá-los, porque, com todos os cortes de verbas, a Universidade continua
fazendo o seu papel, através desse trabalho da direção e do conjunto dos
professores, funcionários e alunos. Eu também vejo, com muita alegria, a
presença dos estudantes do 1º grau, aqui, porque esse problema não é só da
Universidade, é da educação, é da sociedade. O problema, na verdade, é causado
por uma política que está sendo implantada no País. Eu tive a oportunidade de
participar, nesta semana, de um Encontro de Prefeitos cujo tema era “SOS
Hospitais Públicos”. Na verdade, é um SOS para as políticas sociais, é um SOS
para o desemprego, é um SOS para toda a população.
Neste
sentido, quero saudar a companheira do comando de greve aqui presente. Eu fiz
parte de muitos comandos de greve e, singelamente, estamos aqui trazendo o
nosso apoio, dizendo que, enquanto houver essa luta - e com a nossa experiência
de tantos anos de luta, durante os quais obtivemos muitas vitórias, e muitos
companheiros aqui presentes estiveram conosco nessa lutas -, enquanto houver
essa união entre toda a comunidade, há a esperança de que se possa construir
uma outra sociedade, há a esperança de que possamos construir um outro país,
uma outra política, e é neste sentido que estamos aqui integrados, partícipes
deste movimento, trazendo nosso apoio. É isto que temos que fazer: ir a
Brasília, ir às câmaras municipais, em todos os setores, na mídia, que deveria
estar divulgando muito mais a importância desse movimento, e fazer com que
tenhamos o apoio de toda a sociedade e, daí, nós conquistaremos a vitória; a
vitória da universidade, a vitória da educação e a vitória da cidadania. Contem
conosco nesse apoio, estamos juntos neste movimento. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Notamos que o Paulo Egon continua o
mesmo, vibrante e líder.
Tenho
o orgulho de dizer, já que estamos no meio universitário, no meio de assuntos
da Educação, que temos um Projeto, de autoria do ex-Vereador Airto Ferronato,
já de alguns anos, determinando que todas as quintas-feiras seja realizada,
aqui, a Sessão Plenária do Estudante. Vem uma turma de escola, assume o
Plenário, e os alunos fazem o papel de Vereadores, com a assessoria dos nossos
funcionários e com um Vereador
explicando tudo. Após, eles fazem os projetos que foram antes debatidos na sua
escola, e nós os encaminhamos para o Prefeito, para o Governador e Presidente
da República. No ano passado, incentivamos o Memorial do Serviço de Cultura.
Temos aqui a presença do Jorge Barcelos, que é um dos nossos assessores e que
está trazendo mais uma escola, a Escola Estadual de 1º Grau General Daltro
Filho, 4ª série, junto com as
Professoras Taís e Liege.
Está
com a palavra o estudante Rafael Claros, representante da Organização de
Mobilização de Greve.
O SR. RAFAEL CLAROS: Boa tarde a todos. Estou falando em nome da mobilização dos
estudantes. Na assembléia que tivemos, decidimos pela greve. Não estou falando
em nome de nenhuma entidade. Estamos em maio que, para nós estudantes que
costumamos nos informar sobre a história do movimento estudantil, é um mês
muito importante, porque foi há 30 anos que estudantes, não só da França, mas
de vários países, decidiram questionar os valores, a ciência e a quem
interessam esses valores e essa ciência que é formada nas universidades. Os
estudantes alcançaram a superestrutura, que está tão longe de quem está aqui
embaixo, e conseguiram colocar em
xeque aqueles que comandam os
valores desta sociedade injusta em que vivemos.
Entramos
em greve, porque o estudo é um trabalho. Quando um governo coloca isso em
risco, tirando bolsas de iniciação científica, tirando recursos para a
manutenção de RUs, de bibliotecas, de prédios; quando um governo defende uma
Lei, no Congresso, prevendo a privatização da universidade; quando temos dados
de que 90% da produção tecnológica deste País é formada em instituições
públicas gratuitas, quando temos dados de que 50% dos alunos da UFRGS são provenientes
da classe baixa, e que 42% dos pais de
estudantes de universidades federais não têm o primeiro grau completo, então
temos de decretar greve, porque estamos com o nosso direito de estudar
inviabilizado. Nós, da UFRGS, queremos pedir o apoio dos professores e dos
servidores. Aos professores que ainda estão dando aulas, esperamos que as suspendam. Os servidores que, por um acaso,
tiverem acesso às chaves dos prédios dos campus, que os fechem, para que os alunos
que ainda não estão conscientes da importância dessa greve comecem a ter consciência e nos procurem. Nós estamos,
todos os dias, reunidos no Prédio da Arquitetura, realizando reuniões e
debatendo. Pedimos o apoio, novamente, da Reitoria, dos professores, dos
servidores, que cobrem internamente, que apóiem a nossa reivindicação. Temos
uma pauta mínima, que é a retirada imediata da PEC-270, mais verbas para a Universidade, eleição
direta para escolha dos reitores e - o
mais importante neste momento -, a instalação de uma estatuinte que
possa definir e debater os problemas da educação dentro da Universidade, e que
possamos, em conjunto, nós, estudantes, professores, técnicos e reitoria
resolvê-los. A quem interessa essa ciência que é ensinada na Universidade? À
iniciativa privada, com seus oligopólios e com o seu neoliberalismo, ou ao
povo, que está sempre sendo escravizado? Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Sra. Rose Colombo, representante do
Comando de Greve dos técnicos-administrativos, está com a palavra.
A SRA. ROSE COLOMBO: Boa
tarde a todos. Gostaria, em primeiro de lugar, de me dirigir aos professores e
alunos da escola estadual que estão participando deste evento para dizer que
nós, trabalhadores das universidades federais, temos um orgulho imenso de estar
participando, hoje, de um momento que é histórico, e temos muito orgulho de ter
a consciência de que o que nós estamos hoje reivindicando, de que a luta que
estamos colocando hoje para este País inteiro, que é a luta de colocar a nu a
crise da universidade, é uma luta em
defesa de uma educação pública e gratuita, e, nela, não estamos sozinhos.
Gostaríamos de resgatar a importância da luta dos trabalhadores, organizados no
CPERS, professores de vocês, que estão, neste momento, realizando uma caravana
em nível estadual contra a política do Governo Britto, que é nada mais nada
menos do que uma co-edição do que o Governo Fernando Henrique Cardoso está
fazendo em nosso País. Com certeza, a greve, hoje, das Universidades Federais é
o principal enfrentamento político dos trabalhadores urbanos neste País. Junto
com o Movimentos dos Sem-Terra, a luta dos trabalhadores e estudantes das
Universidades tem se transformado numa
política de questionamento global deste Governo. E, por tudo isso, nós temos um
grande orgulho de estar fazendo parte deste processo. Eu gostaria de deixar
para esta Casa, para os Vereadores desta Câmara Municipal, a proposta de que
este apoio, expresso nesta Sessão Especial, se concretize em manifestações
destes Vereadores junto ao Ministério da Educação e Cultura, junto ao Governo
Federal, e acredito que haja a necessidade de que esta Câmara convoque uma
Sessão, aprove uma Moção em apoio à luta das universidades e que cada gabinete
de cada Vereador desta Casa envie fax para o Ministério da Educação e Cultura,
envie fax para o Governo Fernando Henrique Cardoso, exigindo que se atendam as
reivindicações dos estudantes, dos docentes e dos técnicos-administrativos.
Por
último, como parte deste momento histórico e deste orgulho, nós gostaríamos de
dizer que não há política imbatível, não há governo imbatível, com a unidade
dos trabalhadores e com a unidade da juventude. E este exemplo, com certeza,
deve ser seguido pelos professores e estudantes de 1º e 2º graus das escolas
públicas. Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Está
com a palavra a Márcia Losada, estudante de Pedagogia.
A SRA. MÁRCIA LOSADA: Em primeiro lugar, eu queria agradecer a
iniciativa da Câmara de Vereadores de trazer esta discussão para este espaço,
que é um espaço extremamente importante para a nossa sociedade. Agradeço à
Mesa, aos participantes e a todas as pessoas que estão aqui - os professores,
os alunos -, enfim, a toda a comunidade universitária.
Eu
queria começar, falando em nome dos estudantes de Pedagogia e de todo esse
pessoal, alunos e alunas que estão se mobilizando na Universidade. O que está
causando essa mobilização da Universidade é a questão do sucatamento da
Universidade. Hoje, como já foi dito por outras pessoas, a Universidade está
passando por um processo de sucatamento, inúmeros professores vêm se
aposentando, sucatamento dos laboratórios, bibliotecas, enfim, a Universidade
vem sofrendo cada vez mais, com maior número de ataques pelo Governo Federal. A
universidade, que é a nossa Universidade pública, gratuita e de qualidade, está
sendo sucatada e penso que esse é um momento fundamental em que os alunos estão
começando a se mobilizar, e isso é fundamental e importante para mostrar para a
sociedade que a Universidade, assim como toda a sociedade, estão, sim, sofrendo
um o ataque de um projeto maior, um projeto do Governo Federal que quer
liquidar com as entidades públicas. Como o colega Rafael já lembrou, estamos em
um mês importante, maio, em que aconteceram inúmeras manifestações em 1968, eu
penso que começa a ressurgir uma coisa importantíssima aqui no Brasil e aqui no
Rio Grande do Sul que é a questão das manifestações. Hoje, temos um grupo
grande de estudantes e alunos da Universidade que começam a se manifestar em
defesa da Universidade pública. É importante lembrar que não é só a questão da
Universidade, a gente se manifesta e luta pelas questões de uma sociedade. Nós
não queremos a sociedade como está aí, nós queremos uma sociedade mais justa.
Estamos vendo a questão do desemprego que aumenta a cada momento, a cada dia.
Que perspectiva temos para os jovens, para as crianças que estavam ali sentadas
nos observando? É isso que queremos questionar e lutar para que termine. Nós
queremos lutar por uma sociedade mais justa, por uma Universidade pública
gratuita e de qualidade, e lutar significa se mobilizar, significa estarem
estudantes, professores, funcionários todos juntos, em uma luta, em uma luta
que é única, em uma luta que é de todos, significa estarmos juntos e ganharmos
a sociedade para essa luta porque a luta, hoje, não é só pela universidade
pública gratuita e de qualidade, a luta é por uma sociedade, a luta é para não
ter desemprego, é para não ter miséria, é para ter uma educação pública
gratuita e de qualidade, a luta é para ter um País justo onde não tenha gente
morrendo, gente sofrendo, onde possamos chegar e ter orgulho em dizer, por
exemplo, “eu sou estudante de
pedagogia, tenho orgulho de dizer que sou estudante de pedagogia” e que quero,
sim, passar para os meus alunos que eles podem ter esperança, que esse projeto que existe aí, pode terminar com a
luta e com a mobilização de todos. Eu penso que essa mobilização que acontece,
hoje, na UFRGS, começa a demonstrar isso, que temos que ter a esperança pela
mobilização e pela luta, porque a luta é de todos. Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos anunciar para a comunidade
universitária aqui presente que há poucos dias nós aprovamos, por unanimidade,
uma Moção de Apoio, por iniciativa do Ver. Gerson Almeida, ao movimento da
comunidade universitária.
Está
saindo, agora, um documento que será enviado ao Presidente da República e ao
Ministro da Educação e
distribuiremos uma cópia aos
Srs. Vereadores.
O
estudante de Ciências Sociais Evandro Cardoso está com a palavra.
O SR. EVANDRO CARDOSO: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Nosso movimento estudantil, hoje,
organizado pelos estudantes que são apartidários e unidos, está acampado no Campus
para levar o movimento adiante e forte, lembrando um pouco o Movimento de 68. A
questão é que a luta de nossos professores vai muito além do que uma luta por
melhores condições de trabalho e de salários mais dignos. Vai muito além do que
ir de encontro aos instrumentos de dominação impostos pelo Governo Federal.
Nós, estudantes, tiramos isso como lição e pretendemos resgatar esse sentimento
de dignidade e nacionalismo que deve ser preservado no peito de qualquer
cidadão, além de mostrar a outros setores da comunidade o sentimento de
preservação de um patrimônio que, de direito, é nosso.
Cento
e vinte professores da Espanha, na Universidade, vieram tirar fotos do nosso
acampamento. Eles fotografaram o
nosso acampamento e lhes perguntei se
estavam entendendo o que se passava. Elas disseram: “Deve-se lutar
sempre, sempre por um ensino gratuito
de qualidade e público”, elas viveram 68 lá na Espanha. Gostaria de citar uma frase de Paulo Freire:
“Só educadores autoritários negam a solidariedade de ser educados por outros
educandos, separam o ato de educar do
ato de aprender, de tal modo que ensina
quem supõe que tudo sabe e aprende quem é tido por nada saber”. Nós estudantes
da UFRGS, como tidos que nada sabemos, também temos essa lição a dar, que é preservar
a unidade, a luta do coletivo e de levar essa guerra para adiante. Mesmo que
acabe hoje a greve, nós vamos continuar mobilizados e batalhando para que se
consigam justiças sociais neste País, menos exclusão social e menos hipocrisia.
Abaixo a PEC 370, que deveria se chamar PEC 171, abaixo a metáfora de autonomia
financeira, porque o nome dela é privatização, e abaixo a hipocrisia. Muito
obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Esclarecemos que o Rafael Claros é
estudante de Ciências Sociais. A Sra. Daniela Rosa, estudante da Faculdade de
Educação da UFRGS, está com a palavra.
A SRA. DANIELA ROSA: Nós da Faculdade de Educação, estudantes
da UFRGS, estamos mobilizados num processo que vem de longo tempo,
principalmente porque hoje a nossa
preocupação central não é uma greve pela questão salarial Ela é uma greve pelo futuro que este País
vai ter, porque, hoje, o que está em jogo é a Universidade Federal, é o pólo de
desenvolvimento de cultura, de tecnologia deste País. O que está em jogo é a
soberania nacional; o que está em jogo, hoje, é que País e que sociedade
queremos. A Universidade cumpre um papel importante que está sendo ameaçado
hoje. Então, a nossa reivindicação enquanto estudante, enquanto professor,
enquanto funcionário, não é uma luta apenas por um reajuste salarial como
alguns querem dizer. Não é uma luta por questões pequenas, é uma luta muito
grande, é uma luta na defesa de uma escola pública, é uma luta na defesa de um
ensino de qualidade, de um ensino gratuito, onde todos possam ter acesso ao
saber, ao conhecimento, a um conhecimento que deve ser universalizado, a um
conhecimento que deve ser de acesso a todos e não a alguns. Esta é a nossa
luta! A nossa luta contra a privatização do ensino, a luta contra um projeto
que quer esmagar qualquer possibilidade de o cidadão poder ter acesso ao
conhecimento, poder ter acesso a se desenvolver, ter acesso a determinadas
questões que hoje alguns querem que fiquem para poucos, enquanto a grande
maioria tem que ficar por fora. Então, hoje, os estudantes da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, os professores, os servidores e funcionários
estão em greve, sim! Numa greve unitária, numa greve em que está em jogo que
País queremos, que desenvolvimento, que cultura, que conhecimento queremos para
toda a nossa Nação, que é um conhecimento para todas as pessoas. Uma
universidade que consiga atender a toda a demanda, consiga atender hoje a todo
o Rio Grande do Sul, e consiga atender a todos os estudantes de Porto Alegre;
que ela não exclua e, sim, que ela cada vez chame a sua função, que ela tem hoje em nossa sociedade, que é cumprir
um papel no desenvolvimento do nosso pólo de conhecimento e no desenvolvimento
da soberania do País. Muito obrigada. (Palmas.)
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O Sr. Gustavo Oliveira está com a
palavra.
O SR. GUSTAVO OLIVEIRA: (Cumprimenta os componentes da Mesa.) A
todos os presente, neste momento que venho a Tribuna, quero dizer que uma
palavra vem-me à cabeça, toca-me muito,
é a palavra “vagabundos”. Acho que a palavra vagabundos, vai muito além de um
adjetivo, como foi dado aos que se aposentam cedo. Ela é uma visão do nosso
querido Presidente, que é baseada em uma visão que vem de outras pessoas que
estão fora deste País, que comandam os rumos da humanidade.
Eu
me pergunto: somos nós também os vagabundos? Somos nós os vagabundos, quando
estamos dentro da Universidade estudando? Somos nós os vagabundos, quando
deixamos os nossos afazeres, para protestar, quando não ganhamos salários
dignos? Será que é porque somos vagabundos
que o Governo quer acabar com a nossa Universidade? Será que por nós
sermos vagabundos, é que ele quer acabar com o livre acesso ao saber? Eu acho
que não é por isso. E ele sabe que não é por isso. É porque o conhecimento é
perigoso para quem quer manter seus privilégios. Privilégios esses que rolam
soltos, e falcatruas que todos nós sabemos que acontecem todos os dias nesse
País. Era esse o recado que gostaria de dar. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. José Valdir está com a palavra.
O SR. JOSÉ VALDIR: (Cumprimenta os componentes da Mesa.) Eu,
como Professor do Magistério Público Estadual, noto que essa crise da
Universidade, na verdade, é um capítulo da crise mais geral da escola pública
do primeiro ao terceiro grau. E a caracterização dessa crise já foi aqui
colocada e acho que é geral para a escola pública, de um lado o ataque à
qualidade do ensino, através do sucatamento, através do corte de verbas. Por
outro lado, o massacre à dignidade dos trabalhadores em educação, seja na forma
de cassação de direitos já conquistados, ou na forma de aviltamento salarial.
Essa prática só pode ser implantada com métodos totalmente autoritários. E por
traz desta prática está o modelo neoliberal da chamada “mercoescola”, que é a
escola que se orienta, se subordina às regras do mercado, pelos seus fins, nas
suas relações internas, nas suas relações com a sociedade, pelos seus métodos.
Este projeto neoliberal da mercoescola obviamente se contrapõe ao projeto de
escola que chamo de “escola-cidadã”, que é a escola que vem da luta popular,
não só dos profissionais da educação, que já foi muito bem explicitado aqui, e
que tem três questões fundamentais: é uma escola profundamente democrática,
tanto na forma quanto no conteúdo, de qualidade e gratuita, que garante não só
o acesso à escola, mas o acesso ao conhecimento, que não é patrimônio de
ninguém, é da humanidade, mas que garante a permanência na escola. E a
universidade, no meu modo de ver, sofre hoje o mesmo processo da escola
pública, de uma maneira geral. Este ataque à universidade, através do
aviltamento salarial, tem como efeito imediato a evasão, a perda de
profissionais, por outro lado o corte de verbas, o sucatamento tem no caso da
universidade, como efeito imediato, o isolamento ainda maior da universidade em
relação à sociedade, pela perda da possibilidade de realizar pesquisas, que são
fundamentais para que a universidade possa estar perfeitamente integrada com a
sociedade. E a tragédia de tudo isso é que esse desmonte da escola pública e da
Universidade vem no momento em que a sociedade brasileira, pelas suas
características e por ser o Brasil um País de terceiro mundo, mais necessita de
uma Universidade, realmente, popular, capaz de estar articulada com a sociedade
e capaz de formar, para a cidadania, cidadãos atuantes e críticos, ajudando,
através da pesquisa, a resolver os graves problemas nacionais que nós temos.
Por
tudo isso, sem uma Universidade popular, uma Universidade articulada com a
sociedade e produtora de conhecimento, não chegaremos a lugar nenhum.
Por
isso que essa luta dos profissionais da Universidade não é uma luta
corporativa, não é uma luta de, apenas, uma categoria profissional, mas uma
luta, que deve ser encarada e trabalhada nesse sentido, de toda a sociedade.
Nós
temos que apoiar, mais do que apoiar, temos que fazer um esforço para que a
sociedade venha a se engajar, efetivamente, na defesa da escola pública, seja
ela de 1º, 2º ou 3º graus. Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Henrique Fontana):
A Vera. Clênia Maranhão está com a palavra.
A SRA. CLÊNIA MARANHÃO: (Saúda os componentes da Mesa e demais
presentes.) Inicialmente gostaria de dizer que é muito importante para esta
Casa poder, nesta tarde, discutir a situação do ensino público, em especial, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul. O mundo político brasileiro
necessita, inegavelmente, ter uma maior
interface com o mundo acadêmico,
criando canais de comunicação entre ambos, estaremos seguramente criando
mecanismos para que esses dois mundos se aproximem mais da sociedade, motivo da
existência dessas esferas institucionais, do nosso trabalho político e
acadêmico.
A
grave crise que enfrentam as universidades públicas em nosso País, e a complexa
questão da educação que todos brasileiros, hoje, acompanhamos, motivou este
vínculo, nesta tarde, que esperamos seja mantido, e assim o Parlamento
porto-alegrense possa estar dando uma contribuição mais efetiva à manutenção da
universidade pública do nosso País.
Criamos,
portanto, no Parlamento de Porto Alegre, quando aprovamos a proposta do Ver.
Henrique Fontana, a oportunidade de
aprofundar esse compromisso; de compreendermos melhor a luta pela universidade
pública do Brasil, de compreender e sermos parceiros e parceiras do desafio da
manutenção do capital humano nas universidades, de apoiarmos a luta contra o
aviltamento salarial dos professores, técnicos-administrativos e da manutenção
da infra-estrutura atual da universidade brasileira. Compreendermos e apoiarmos
a luta pelas universidades públicas em nosso País é, na verdade, nos somarmos à
defesa das instituições fundamentais para o desenvolvimento de qualquer País.
Estamos,
aqui, portanto, reafirmando o nosso compromisso na defesa do progresso cultural
e econômico do Brasil, porque é responsabilidade de todos cidadãos e cidadãs,
não apenas da comunidade acadêmica, somarmo-nos à luta levada, hoje, pelos
professores.
Sabemos
que o processo de globalização em curso, em nível mundial, exige, cada vez
mais, dos países, profissionalização. É preciso que estejamos lutando pelo
desenvolvimento técnico-científico para entrarmos nessa disputa, não permitindo
que as universidades sejam sucatadas, e compreendendo que o sucatamento da
universidade pública se constitui no principal elemento de sucatamento de um
país.
E
que se nós estamos aqui hoje, lutando pela manutenção, pelo crescimento e pelas
garantias do desenvolvimento da universidade, é porque temos o compromisso com
o desenvolvimento cultural e científico
do Brasil.
Eu
acredito que a Câmara Municipal de Porto Alegre cumpriu apenas o seu papel de
representante do povo. Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O
Ver. Lauro Hagemann está com a palavra.
O SR. LAURO HAGEMANN: Prezado Ver. Henrique Fontana,
Presidente em exercício e proponente desta Sessão, Srs. Vereadores e demais
presentes.
Muito
sensata a proposta do Ver. Henrique Fontana ao promover esta Sessão na casa do
povo de Porto Alegre esta tarde porque, além de todas as qualidades que a nossa
tradicional Universidade ostenta, ela tem a sua sede aqui na nossa Cidade, por
isso é muito pertinente esta Sessão.
A
Câmara Municipal de Porto Alegre faz eco ao protesto da sociedade ao que se
está cometendo contra a Universidade, este é o nosso papel.
O
papel da sociedade é exatamente este, de tomar conhecimento e repudiar esse
verdadeiro crime de lesa-pátria que se está cometendo contra a Universidade e
aos interesses maiores desta.
É
incrível que num país, no final do 2º milênio, que se pretende emergente de uma
situação de inferioridade para assumir um papel diretivo nos destinos do mundo,
sucateie o seu cérebro-pensante, o seu organismo-pensante, que é a
universidade.
Já
foi dito, já repetimos “n” vezes, mas não vamos chegar a lugar nenhum com essa
política malsã. Esta Câmara está fazendo exatamente isso, transformar o
movimento num motor da sociedade contra isso que estão fazendo. É lastimável
que figuras notáveis da cidadania que estão hoje nos supremos postos da
República se prestem a esse doloroso papel, porque isso desdiz tudo o que a
sociologia preconizou e nós chegaremos ao triste e lamentável final de vermos a
sociedade submersa no desespero, na descrença e, principalmente, no
desconhecimento, que é o móvel principal de uma universidade: transmitir e
armazenar o conhecimento. É o que nós estamos fazendo ou desfazendo hoje, o que
estamos tentando construir, em alguns casos, há mais de 100 anos na nossa
Universidade. Muito obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: A Vera. Maria do Rosário está com a
palavra.
A SRA. MARIA DO ROSÁRIO: Sr. Presidente, Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) É com satisfação que nós vemos essa
reação por parte da Universidade pública, dos seus diferentes segmentos e
também a leitura e o apoio que a própria sociedade dá neste momento à luta
empreendida a partir dos professores, funcionários e estudantes.
Está
claríssimo para todos nós que esta luta tem diferentes faces, sem dúvida que
uma das faces, uma das questões firmes na pauta de reivindicações é a questão
da reposição salarial. Quero dizer, como professora que sou, participante
também dos movimentos em defesa da escola pública, do magistério público
estadual, que não vejo contradições entre a defesa da recuperação salarial dos
servidores, dos funcionários, dos professores e a própria defesa da
Instituição, pois a forma como se paga o salário desses profissionais, em
diferentes níveis na Educação, é que demonstra o verdadeiro desrespeito que se
move contra uma Instituição de Ensino, seja ela no 1º ou no 2º grau e também na
universidade. Portanto, acredito que, nesta hora, a reivindicação de recuperação salarial para aqueles que trabalham
com a Educação no nível superior, é fundamental e precisa ser assumida como uma
reivindicação de toda a sociedade para além da luta corporativa, mas, enfim,
como parte das condições de trabalho, das condições de ensino, das condições de
pesquisa e das condições de extensão.
Quero
dizer, também, que para todos nós, que somos parte da Cidade de Porto Alegre,
deste Estado do Rio Grande do Sul, e deste País, cabe-nos estender esta luta
como a defesa da própria Universidade, porque temos um compromisso fundamentado
no compromisso de que a pesquisa, a ciência, a cultura, a produção tecnológica
estejam a serviço de milhões que estão excluídos nos dias de hoje. O tempo
atual é o tempo da informação, da tecnologia, e milhares de pessoas não vivem
este tempo em que as universidades podem, sem dúvida, abrir as portas para a
maioria da população brasileira. Temos que lutar por mais universidade pública,
por mais verbas, nós precisamos dos cursos noturnos, queremos que os cursos
tenham a mesma qualidade que têm os cursos diurnos e que possam estender, para
os filhos dos trabalhadores e para os trabalhadores, a possibilidade de estarem
nas universidades. Queremos abertura de concursos com salários que, de fato,
possam colocar para dentro da Universidade mais educadores e profissionais.
Queremos a autonomia da Universidade. São lutas empreendidas e a sociedade tem,
nos dias de hoje, o compromisso com elas. Sem dúvida alguma esse é um
compromisso de todos nós, e se é um compromisso de todo nós, está sendo chamado
a falar também o Governador deste Estado. Porque em outros momentos em que as
instituições federais, as instituições públicas estiveram também em xeque,
tivemos outros governadores colocando-se ao lado das instituições públicas. E
se a Universidade Federal é uma instituição do Estado do Rio Grande do Sul, não
entendo por que, ou melhor, entendo por que, mas acho que o movimento precisa
chamar a falar o Sr. Governador deste Estado, porque está colocado a ele
também, pela sociedade gaúcha, a necessidade de se posicionar a favor da
universidade pública e de tensionar as relações com Brasília, no sentido de
poder aqui também estabelecer a defesa da educação pública de qualidade e da
Universidade Federal, que é federal, mas também é deste Estado. A ausência da
palavra do Sr. Governador, neste momento, penso que o coloca ao lado do Presidente da República e,
portanto, contrário aos gaúchos e
brasileiros também. Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. Gerson Almeida está com a palavra.
O SR. GERSON ALMEIDA: (Saúda os componentes da Mesa.) Não há
nenhum motivo de ordem acadêmica, administrativa ou de interesse de uma
política de desenvolvimento nacional
que vise a uma melhor qualidade de vida para a população que justifique a
política que está em curso na universidade. Há um verdadeiro desmantelamento,
não só da universidade pública, mas de todo o serviço público montado ao longo
de décadas de luta e esforço da população no nosso País. Esse é um dos elementos a mais que
justificam e levam a cabo a política que é fundada na exclusão social da maioria
da população, porque é a universidade pública que permite o acesso aos bancos
escolares universitários de pessoas como eu, que só pude cursar a universidade
porque havia a escola pública e gratuita em nosso País, de outra forma, como a
maioria da população brasileira, eu não teria acesso ao estudo. Todas as
avaliações do MEC demonstram que nas universidades públicas é que encontramos a
melhor qualidade de ensino, incomparavelmente melhor aos verdadeiros
supermercados de ensino que as universidades, que a política do Estado tem
construído, inclusive porque não há nenhum monopólio a ser destruído para que
se estabeleça uma concorrência, esse bálsamo das políticas neoliberais que
resolve tudo, porque o ensino de terceiro grau em nosso País já está há muito tempo
privatizado, e segundo o recente artigo do ex-Reitor Elgio Trindade, o Brasil
já é hoje o oitavo país do mundo em privatização do seu ensino superior, num
“ranking” em que os Estados Unidos ocupam o vigésimo lugar. Portanto, o modelo
de ensino e as políticas públicas do Estado há muito têm desconsiderado a
escola pública, colocando-a apenas como elemento secundário na sua política de
construção do ensino. Como lembrou a Professora Maria Assunta, os maiores
recursos do Estado já são direcionados para escolas privadas. Portanto, essa é
mais uma das incongruências da política atual. Os mil cento e oitenta e sete
professores que deixaram a UFRGS nos últimos anos, em grande medida, acredito,
saíram exatamente a partir do momento em que a discussão sobre as mudanças da
Previdência começaram a entrar em curso, ou seja, saíram precocemente
aposentados para se defenderem das mudanças e do crime de retirada de direitos
que o Governo Federal, com a reforma da Previdência, está impondo, não só aos
professores, mas à grande maioria da população do País. Esse crime de obrigar à
aposentadoria precoce da sabedoria, produzido pelo Estado ao longo de anos e
anos de estudo, que acabam depois sendo recolhidos pela iniciativa privada a
nenhum valor, é um crime contra a sabedoria pública e contra o saber do nosso
País. Em relação a isso, a aposentadoria precoce de milhares de pessoas, não só
das universidades, mas de outros ramos do serviço público, é devida ao medo de
perder direitos de anos já consagrados. A isso, o Presidente Fernando Henrique
tem apenas uma palavra, que já foi lembrada aqui, que é de chamar de vagabundos
aqueles que se aposentam antes dos cinqüenta anos. Essa pusilanimidade, essa
forma atroz de fazer política, onde o discurso não tem nenhuma concordância com
a prática, é uma forma que deve ser superada e derrotada, porque já estamos
cansados de palanques que aceitam qualquer discurso e de práticas que depois o
negam a cada momento, onde a educação, saúde e habitação são prioridades dos
pronunciamentos, mas que depois não se faz absolutamente nada. E é isso que
está fazendo com que a política acabe, para grandes setores da população,
virando sinônimo de pilantragem, virando sinônimo de manipulação. Este é mais
um crime. Por quê? Porque nós não podemos perder a esperança, a esperança
fundada na luta coletiva de que é possível mudar, é possível construir relações
públicas e sociais diferentes, e que a ação política é uma obrigação de todos
aqueles que querem enfrentar radicalmente este estado de coisas. Por isso que
me surpreendeu a grande celeuma, Cara Reitora, suscitada por uma questão do
vestibular da UFRGS, inclusive com a participação direta do Presidente da
República, criticando uma suposta crítica a sua política. Agora o silêncio, que
faz com que o Presidente da República assuma a greve de 52 universidades
públicas. Ainda não ouvi uma palavra do Sr. Presidente em relação a isso.
Portanto, esta forma, esta postura é que deve, em última instância, ser banida
do nosso Estado, do nosso País, para que possamos, de fato, fundar um Estado
sobre políticas públicas do interesse da maioria da população. Muito obrigado.
(Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Queremos agradecer ao Ver. Gerson
Almeida, que fez uso da palavra, e comunicar a este Plenário que estamos
recebendo, com muita satisfação, cidadãos de Porto Alegre que vêm a esta Câmara
para uma Sessão Solene que iniciará às 17 horas, em comemoração aos 50 Anos de
Fundação do Estado de Israel. Queremos comunicar, também, aos professores,
alunos e funcionários que constróem o movimento em defesa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que os
Vereadores estão assinando uma carta em defesa da Universidade, dirigida ao
Presidente da República e ao Ministro da Educação. Todos os Vereadores presentes
nesta Sessão já assinaram a carta, mas nós pretendemos convidar os Vereadores
que não puderam vir hoje, e temos a convicção de que teremos, provavelmente, se
não os 33 Vereadores, um número muito próximo apoiando esta iniciativa. Quem
sabe, os 33 Vereadores passarão este documento ao Comando de Greve, enviando
diretamente ao Presidente e ao Ministro da Educação.
Com
a palavra o Ver. Guilherme Barbosa, do Partido dos Trabalhadores.
O SR. GUILHERME BARBOSA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Depois de tantas falações, a gente
dificilmente deixa de repetir algumas questões. Queria fazer, rapidamente, uma
reflexão principal: uma universidade tem, no meu ponto de vista, duas tarefas
principais: uma, a formação de profissionais, e a segunda, a pesquisa, o
desenvolvimento do conhecimento e da tecnologia. A primeira tarefa, muito
importante, sim, com certeza, mas a segunda, no meu ponto de vista, novamente,
é a mais importante delas, porque significa, de fato, a possibilidade de que
nós tenhamos uma nação independente verdadeiramente. Um país que não consegue
ter autonomia de conhecimento, que não desenvolve o seu próprio conhecimento, é
um país condenado à dependência. Neste momento, está em curso, exatamente, esse
projeto. Há algum tempo, fiz um estudo para ser apresentado em um congresso da
Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental e concluí, e os
números devem ser muito parecidos hoje, que 92% do investimento que se fazia no
País em ciência e tecnologia era feito, exatamente, pelo setor público
brasileiro, e quase a totalidade disso, nas universidades federais do País, que
eram recursos ainda menores do que de vários países da América Latina. Esse
desmonte está em curso e ele não é absolutamente isolado quando vemos que está
em curso, também, o desmonte da saúde, o desmonte de todos os setores do
mercado de trabalho brasileiro e assim por diante. A ironia é que quem lidera
esse processo é um professor universitário oriundo de universidades federais do
País. Mas, os discursos, às vezes, ficam muito parecidos e, precisamos dizer
que este projeto, além de ter um líder, que é o Presidente Fernando Henrique
Cardoso, há partidos que o apoiam, sim. É preciso destacar isso para que os
discursos não fiquem semelhantes. Há partidos que apóiam o Presidente da
República e o Governador Antônio Britto, pois aplicam o mesmo projeto. Nós
precisamos cobrar deles, como cobramos do Presidente e do Governador Antônio
Britto. Sem o apoio político desses partidos, não seria possível fazer esse
desmonte.
Devemos
dar toda a força à mobilização, porque a vitória, com certeza, virá. Muito
obrigado. (Palmas.)
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE (Clovis Ilgenfritz): Os Vereadores Renato Guimarães, Antônio
Losada e Décio Schauren precisaram sair, devido a compromissos anteriormente
agendados, mas deixaram a sua solidariedade ao movimento.
O Ver. Carlos Garcia está
com a palavra.
O SR. CARLOS GARCIA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa e demais presentes.) Primeiramente, magnífica Reitora,
gostaríamos de transmitir o recado do nosso Senador José Paulo Bisol, que não
pôde estar presente a este ato, mas fez questão de que transmitíssemos que essa
luta é uma luta dele e será uma luta de palanque.
Sinto-me
muito à vontade para falar sobre a Universidade do Rio Grande do Sul, porque
sou oriundo dela.
Vejo,
aqui, três colegas, entre os quais o Diretor da Faculdade de Educação Física,
meu colega Guimarães, o Mário Braunner e o Vicente Molina.
Faz
vinte e cinco anos que eu deixei a Universidade, e eu pergunto: que escola e
sociedade quer o atual Governo? Sem educação, certamente, nenhum país do mundo
tem futuro promissor - e isso sem abordar as questões mais abrangentes, de alta
tecnologia, que um país precisa para o seu desenvolvimento.
Quando
se faz um discurso, afirmando que estamos rumando para o Primeiro Mundo sem
investir em educação, por si só, é altamente contraditório. Essa Universidade,
que, cada vez mais, está sendo sucatada, tem a fundamentação - como qualquer
área de ensino - em três segmentos importantes: ensino, pesquisa e extensão. Já
foi dito pelos demais colegas Vereadores que as universidades públicas deste
País são as responsáveis pela quase totalidade do ensino e, principalmente, da
pesquisa, porque a alta tecnologia que temos é fruto de estudos das
universidades públicas deste País. Está falando aqui alguém que é coordenador
de uma faculdade privada, mas nós sabemos que quem investe e atua na área de
pesquisa é realmente a universidade pública. Em cima disso, o próprio Governo
atual é o maior incentivador para que os atuais docentes deixem a vida
acadêmica, buscando uma aposentadoria precoce e isso, sim, diminui o
conhecimento, porque conhecimento não é peça de reposição; conhecimento precisa
de estudo e preparação. Nós sabemos quantas universidades públicas se dedicam
aos seus profissionais, fazendo com que eles aprimorem os seus estudos não só
aqui no Brasil como no exterior. Nós, do Partido Socialista Brasileiro, temos bem claro que a nossa luta é em defesa
de uma universidade autônoma, pública, gratuita e de qualidade. Essa é a
universidade que queremos e que um dia, temos certeza, vamos obter. Muito
obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: O Ver. João Motta está com a palavra.
O SR. JOÃO MOTTA: Sr. Presidente e Srs. Vereadores. (Saúda
os componentes da Mesa.) Brevemente, gostaria de dar o meu depoimento neste
nosso encontro, que, espero, seja o
primeiro de uma série. Atento às falas, relembro-me do final dos anos 60, década de 70, quando militantes do
Movimento Estudantil, na época da
reconstrução da UNE e UEE, a nossa agenda era exatamente o famoso acordo
MEC-USAID, quando se introduzia, naquela época, uma reforma estrutural que
atingia a Universidade de modo cabal. Naquela época, uma questão era um ponto
de unidade entre o movimento estudantil, os professores e praticamente todo o
conjunto de cidadãos e cidadãs: todos se articulavam em torno da defesa da
universidade pública e gratuita. Agora, fui escrever o meu pronunciamento e
vejo que a questão da universidade pública gratuita ainda é a mesma palavra de
ordem que era nos anos 70 e, agora, por coincidência de novo, uma instituição
internacional tenta submeter a universidade: desta feita, o BIRD. E, mais uma
vez, estamos aqui em defesa da mesma palavra de ordem dos anos 70, ou seja, a
defesa da universidade gratuita e em defesa da autonomia da universidade.
Portanto, que não seja da minha parte, embora no encerramento desta Sessão,
cobrado o esquecimento dessa luta de muitos anos e que não seja agora que a
autonomia da universidade seja quebrada definitivamente.
Sabemos
nós, pelas razões já expostas nos pronunciamentos anteriores, que o que está em
jogo, talvez, neste momento, e que seja mais visível ao olhar da sociedade,
seja, de fato, o desmonte da universidade pública. Nós sabemos que os
fundamentalistas, para não usar aqui a expressão “os exterminadores do futuro”,
Ver. Lauro Hagemann, do neoliberalismo e da privatização não vão vacilar em
acabar com a universidade pública, porque as experiências que nós temos,
vizinhas de nós, na Argentina, demonstram isso. Recentemente, tivemos a
oportunidade de conversar com o Professor Corajo, da Universidade de San
Martin, e o relato dele é nu e cru: acabou-se a universidade pública na
Argentina. Esse é o projeto neoliberal! Portanto, se nós estamos, aqui, nesta
tarde, refletindo sobre a autonomia das universidades e sobre a necessidade de
manter viva a bandeira da universidade pública, devemos também entender que o que
está em jogo, na verdade, é a vinculação dessa universidade a um projeto de
desenvolvimento econômico, autônomo, independente e soberano neste País. Esse é
o papel estrutural e estratégico da universidade pública gratuita. Por isso é
que nós, brasileiros, por acreditarmos num outro futuro, no futuro da justiça
social, no futuro do pleno desenvolvimento econômico alicerçado no conhecimento
da universidade federal, como temos aqui no Rio Grande do Sul, já alicerçado
nesse tecido econômico regional que hoje constitui emprego e renda no Estado do
Rio Grande do Sul, é que nós estamos, mais uma vez, aqui, fazendo o mesmo
pronunciamento, companheiro Henrique, com a mesma emoção e radicalidade, mas
talvez não com tanto ímpeto quanto ouvi aqui, atentamente, dos nossos
companheiros do Movimento Estudantil da Universidade. Cheguei até a me informar
um pouco para entender a geografia atual do Movimento Estudantil e quero
confessar, embora o pedido dos companheiros do Movimento Estudantil e das
Entidades que eu não falasse isso, eu não consigo entender por que não está
presente nesta tribuna ou nessa Mesa a União Nacional dos Estudantes, a UNE.
Muito obrigado.
(Não
revisto pelo orador.)
O SR. PRESIDENTE: Pressionados pelo grande movimento que
se processa nessa Câmara, que muito nos orgulha e, também, conseguindo terminar
essa Sessão exatamente às 17 horas, que é o horário da outra Sessão, nós
queríamos, mais uma vez, em nome da Mesa Diretora, em nome da Casa, em nome de
todos os Vereadores...
O SR. JOÃO DIB: Sr. Presidente, em todas as Sessões como
esta, a última palavra é da autoridade maior. Eu gostaria que o fecho dessa
Reunião fosse feito pela nossa Magnífica Reitora.
O SR. PRESIDENTE: A Mesa vai aceitar a proposta do Ver.
João Dib, embora todos aqui já tivessem colocado a intenção de liberar, de uma
forma muito educada e solidária, o nosso Plenário, porque, inclusive, já
existem convidados para a próxima Sessão.
Nós
agradecemos e queremos dizer da importância deste ato que seguramente terá
repercussão muito forte. Queremos colocar aos Senhores Vereadores que estiveram
todo o tempo presentes, aos participantes da Mesa, da nossa motivação em levar
adiante as questões colocadas.
Com
a palavra a Magnífica Reitora Wrana Panizzi.
A SRA. WRANA PANIZZI: Sr. Presidente, Srs. Vereadores,
Senhores e Senhoras, eu gostaria de, em nome da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, agradecer a esta Casa, repito, a Casa maior de representação do
povo de Porto Alegre, a oportunidade de trazermos a este âmbito a questão da
discussão da vida da Universidade Pública Brasileira, não só da nossa
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, mas todas aquelas questões que dizem
respeito à educação nesse País, na crença efetiva que temos de que não há
investimento maior do que aquele feito na educação, que a educação é capaz de
ser libertadora, individual e coletivamente, e se constitui na expressão maior
da nossa cidadania. Muito obrigada, obrigada pela presença de todos. A Universidade é grande e só consegue ser efetivamente viva na medida
em que ela se insere no conjunto da nossa sociedade, que é quem nos mantém.
Muito obrigada.
(Não
revisto pela oradora.)
O SR. PRESIDENTE: Muito obrigado a todos.
Está
encerrada a Sessão.
(Encerra-se
a Sessão às 17h.)
* * * * *